Uma obra de: Troye Spears
- FADE IN
CENA 01. MANSÃO DE CAMILLA TESS. QUARTO PRINCIPAL. INT./MANHÃ
SUSAN adentra o quarto, abrindo as janelas e as cortinas. CAMILLA deitada em sua cama, observando-a.
CAMILLA - Bom dia, Susan.
SUSAN - Bom dia, Camilla. Tudo bem?
CAMILLA - Sim.
SUSAN - Como passou a noite?
CAMILLA - Bem... apesar do pesadelo de ontem. Ainda tem algo dentro de mim me dizendo que algo de muito ruim vai acontecer.
SUSAN - Relaxa. Vai passar.
O silêncio paira no ambiente. Susan pega uma CADEIRA DE RODAS e a monta. Em seguida, leva a cadeira até a beira da cama. Logo, ajuda Camilla a sentar-se na mesma.
SUSAN - Sabe quem trará seu café da manhã, hoje?
CAMILLA - Quem?
SUSAN - Theo.
CAMILLA - Sério? Que bom! Estou com saudades dele.
SUSAN - Já deve estar subindo, inclusive. Vou para a cozinha ajudar Lauren a preparar o almoço.
CAMILLA - Ok. Tenha um bom dia.
SUSAN - A senhora também.
Susan DEIXA o cômodo.
Em poucos minutos, THEO adentra o quarto, trazendo em suas mãos uma BANDEJA contendo uma XICARA e uma TIJELA com BISCOITOS.
THEO - Bom dia, srta. Camilla.
CAMILLA - Bom dia, Theo! Quanto tempo!
Theo vai até ela, a cumprimenta e põe a bandeja em cima de uma MESINHA. Logo, senta-se na cadeira ao lado de Camilla, que o observa.
CAMILLA - Você segue com a mesma elegância de sempre.
Theo fica envergonhado.
THEO - Obrigado. A senhora também. Sempre bela.
Camilla ri.
CAMILLA - Não me teça elogios, menino. Já sei que estou velha e acabada. Nunca pensei em chegar aos meus 70 anos assim.
Camilla olha para suas pernas.
THEO - Não se preocupe, srta. Camilla. Todos temos um destino. E pela incrível pessoa que a senhorita é, ainda tem muito para viver. E com saúde! A senhorita vai se recuperar.
CAMILLA - Sempre positivo. Sempre gostei de você, garoto.
THEO - Obrigado.
O silêncio paira.
CAMILLA - Sempre calado, tímido.
Theo novamente fica envergonhado. Desta vez, fica com as bochechas vermelhas.
CAMILLA - Mas me diga... O que está achando dessa reunião?
THEO - Hum. Diferente. Ainda não me acostumei com a presença da Anna.
CAMILLA - Eu também não. Ainda acho estranho o fato de Carl querer essa amizade entre as duas. Ele sabe que elas nao vão se dar bem nunca. E, por causa da carreira, ele sempre foge de confusões.
THEO - Acho que essa ideia partiu de Anna, para falar a verdade.
CAMILLA - Eu também acho, Theo. Muito estranho.
THEO - Só espero que a Katy não saia magoada.
CAMILLA - Você sempre foi apaixonado por ela, não é?
THEO - Acho que sim. Sempre senti algo forte por ela.
CAMILLA - E aí apareceu o Carl...
THEO - Exato.
CAMILLA - Mas agora ela está livre, Theo. Você é um bom partido para essa garota. Sempre preocupado com o bem estar dela.
THEO - Quem sabe um dia eu tomo coragem?
CAMILLA - Espero que esse dia chegue logo. Queria ver vocês dois juntos. Afinal, Carl já não tem mais jeito.
THEO sentado no sofá e KATY deitada no mesmo, com a cabeça sobre o colo dele.
THEO - Como você está se sentindo?
KATY - Bem. Por que me sentiria mal?
THEO - Nada...
O silêncio se instala e Katy, em um pulo, se manifesta.
KATY - Ah, já entendi! Até você acha que tem algo de errado com o fato de eu estar convivendo com meu ex e a atual dele. Quer saber?
Katy levanta-se rapidamente do sofá.
KATY - Tô cansada de todo mundo me perguntando a mesma coisa! Me deixem!
Katy DEIXA o cômodo. SUSAN entra e vai em direção à Theo.
SUSAN - O que houve?
THEO - Ela irritou-se com uma pergunta que fiz. Agora tenho uma certeza, pelo menos...
SUSAN - Qual?
THEO - Katy está mesmo incomodada com essa situação toda. Mas pelo que conheço dela... Tem algo de errado. Ela está planejando algo.
SUSAN - E o que será?
THEO - Não sei ainda, mas vou descobrir!
SUSAN - Tensa situação. O pior é que nem posso dizer que vai melhorar...
THEO - Como assim?!
SUSAN - Daqui uns dias o amigo de Anna, Daniel, vem jantar. E pelo que soubemos, é tão esnobe quanto à amiga.
THEO - Eu sei. Conheço Daniel. Sujeitinho intrigante.
SUSAN - Mas, pelo menos, teremos um convidado de excelência.
THEO - Quem?
SUSAN - O Sr. Charles. Camilla o convidou há um tempo e ele aceitou vir.
THEO - Que bom! É um ótimo homem!
SUSAN - Sim. Só espero que dê udo certo no jantar.
THEO - Também espero.
Silêncio de alguns segundos.
THEO - Bom, vou ir dar uma volta na beira do Lago Neville. Faz tempo que não vou lá refrescar a mente.
SUSAN - Ok. Vou voltar ao trabalho.
Susan vira as costas e segue em direção à porta que leva à cozinha.
THEO - Ei! Espere!
Susan para e vira-se.
THEO - Quer ir comigo?
Susan para para pensar.
SUSAN - Aceito o convite.
Envergonhada, Susan sorri.
SUSAN - Só vou avisar à outra empregada, a Lauren.
CENA 03. MANSÃO DE CAMILLA TESS. SALA DE JANTAR. INT./NOITE
Legenda: 18 DE SETEMBRO
Todos sentados em volta da grande mesa, exceto Charles e Camilla. CHARLES estava sentado em uma POLTRONA, um pouco longe da mesa. SUSAN segura um PRATO na mão, de pé, ao lado da mesa, e vai em direção à Charles.
SUSAN - Olá, Sr. Charles. Trouxe-lhe um prato de comida.
Susan põe o prato em uma BANDEJA, em cima de uma MESINHA DE CANTO, ao lado da poltrona.
CHARLES - Muito obrigado, meu anjo. Mas me diga uma coisa: Camilla não virá?
SUSAN - Ela geralmente não desce para fazer refeições. Mas, hoje, especialmente por causa sua, ela descerá. Vou trazê-la em instantes.
CHARLES - Muito obrigado.
Minutos depois, Susan chega, carregando CAMILLA na CADEIRA DE RODAS.
CAMILLA - Olá, Charles.
CHARLES - Olá, Camilla. Como está?
Camilla fica posicionada ao lado da poltrona e Susan põe em seu colo uma BANDEJA com um prato com comida servida. Susan retira-se.
CAMILLA - Bem, dentro do possível. E você?
CHARLES - Estou bem. Só não posso fazer muito esforço.
CAMILLA - Ah, sim. Foi diagnosticado com problema cardíaco, certo?
CHARLES - Sim. Um problema muito grave, inclusive. Não posso fazer ou sofrer nada que acelere o batimento cardíaco.
CAMILLA - Mas está sendo medicado?
CHARLES - Sim, sim. Mas não é bom arriscar, certo?
CAMILLA - Sim. Você está hospedado onde?
CHARLES - Na simples pensão que tem do outro lado do lago. É um pouco longe vir à pé. Daniel me ofereceu carona.
CAMILLA - Sim, sim. Pelo menos é gentil o menino.
CHARLES - É... ou se faz de gentil. Conheço gente desse tipo. Pelo que pude observar, o psicológico dele é complicado, ele é misterioso e tem perfil físico de um assassino brutal que capturei na minha época em atividade como detetive.
CAMILLA - Falando assim, até dá medo.
CHARLES - E é assustador mesmo.
CENA 04. MANSÃO DE CAMILLA TESS. SALA DE ESTAR. INT./NOITE
Todos sentados nos sofás e poltronas, conversando entre si. CAMILLA na cadeira de rodas, ao lado da poltrona de CHARLES.
THEO - Eles estão conversando bastante.
KATY - Pois é. É bom pra Camilla. Refrescar a mente um pouco.
CARL - Pois é. Acho ótimo para ela ter uma companhia.
ANNA senta-se no sofá em que os três estão conversando, ao lado de Carl. DANIEL senta no chão, em frente à Anna.
ANNA - Nunca jogou futebol, Katy?
KATY - Não. Minhas pernas nunca ajudaram. Uma é levemente maior que a outra. E nunca gostei de futebol.
ANNA - Irônico, não?
Carl olha-a repreensivamente.
CARL - E eu nunca consegui tocar piano, como Katy consegue. Por causa do meu defeito no mindinho esquerdo, que é menor.
Daniel ri abafado e tapa a boca com a mão. Carl olha para ele.
CARL - Vai dizer que não tem nenhuma imperfeição física?
DANIEL - Não.
THEO - Não que a gente saiba. Pode estar escondido por aí.
Theo ri alto. Katy e Carl riem também. Anna segura o riso.
CARL - Anna também tem imperfeições.
Anna olha repreensivamente para Carl.
ANNA - É algo pessoal, amor.
CARL - Não preocupe-se. Não vou falar nada.
Anna levanta-se agressivamente.
ANNA - Vou pro quarto.
Anna SAI do cômodo.
THEO - Eu tenho uma falha na sobrancelha.
DANIEL - Por isso está sempre no salão de beleza, então.
Daniel ri. Os outros olham para ele que, em seguida, para de rir. SUSAN se aproxima do sofá.
THEO - (olhando para Susan) Até Susan tem imperfeição. Mas deixa ela bonita.
SUSAN - Está falando do meu cabelo?
THEO - Sim. A mecha do seu cabelo que tem a coloração diferente.
Susan mexe em seu cabelo e pega na mão a mecha de cabelo mais clara.
KATY - Que sorte. Te deixou ainda mais linda.
THEO - E única.
Susan sorri, envergonhada.
CHARLES - Falando em imperfeições...
Todos olham para Charles.
CHARLES - Há muito tempo, entrei no caso de uma criança que me provou, no início do carreira, que fazer justiça com as próprias mãos é algo assustador. Não apenas o ato, mas sim a mente do assassino. A mente humana é muito perturbada.
THEO - Conte-nos sobre o caso.
CHARLES - Contarei. Era uma criança que, como toda outra, brincava com seus amigos. Um dia, duas crianças estavam brincando de arco e fleha numa espécie de floresta próxima às suas residências. A flecha do arco de uma delas acertou a outra no pescoço, matando-a no mesmo instante.
DANIEL - Mas seria essa criança uma assassina? Era apenas uma criança. Foi um acidente, estavam brincando com instrumentos inapropriados.
CHARLES - Concordo. Pensava exatamente assim. Até o momento em que descobri que a criança, na verdade, estava há um tempo praticando arco e flecha e já o fazia muito bem. No inquérito final, ela saiu impune.
KATY - Mas então ela era mesmo uma assassina?
CHARLES - Não posso afirmar nada, Katy. Mas, na minha opinião, foi um crime muito bem estruturado. Um plano engenhoso e calculista, criado com grande antecedência.
CARL - E o que houve com a criança?
CHARLES - Não posso falar nada mais desse caso. A criança já é adulta hoje, mudou bastante fisicamente mas, com certeza, eu reconheceria a criança até hoje.
THEO - Como?
CHARLES - Ela tinha uma imperfeição física.
KATY - Qual?
CHARLES - Como eu disse anteriormente, não posso falar mais nada sobre o caso.
Charles olha para o RELÓGIO DE PULSO.
CHARLES - Aliás, já está em minha hora.
DANIEL - Eu levo o senhor.
CHARLES - Obrigado.
Daniel levanta-se. Camilla despede-se de Charles. Os outros, o fazem em seguida. Daniel e Charles SAEM da casa.
CARL - Bom, vou lá pro quarto. Até.
Carl DEIXA o cômodo.
KATY - Vou ir caminhar em volta do lago.
THEO - Tão tarde assim?
KATY - Sim. Por quê?
THEO - Eu vou com você.
KATY - Não precisa. Eu sei me cuidar sozinha.
THEO - Eu vou com você.
Katy SAI da casa e Theo vai atrás dela. Camilla observa o RELÓGIO DE PAREDE, que marca 10:30 P.M.
SUSAN - Quer ir pro quarto?
CAMILLA - Como ficou silenciosa a casa novamente, não é mesmo?
SUSAN - Sim. Até dá para estranhar.
Ouve-se gritos.
CAMILLA - E duraram apenas segundos.
CARL (O.S.) - Chega de palhaçada! Cansei!
CARL passa pela sala de estar sem olhar para Camilla ou Susan e SAI da casa.
CAMILLA - Brigou com Anna.
SUSAN - Com certeza.
CAMILLA - Bem, leve-me pro meu quarto, Susan. Já passou da hora de eu estar na cama.
SUSAN - Adorei ver você aqui embaixo, divertindo-se.
Susan começa a mover a cadeira de rodas.
CAMILLA - Pois é. Adorei também. Pena que será a última vez.
SUSAN - Por quê?
CAMILLA - Não sei. Apenas sinto que será a última vez que terei um momento assim.
CENA 05. LAGO NEVILLE. EXT./NOITE
Legenda: 10:40 P.M.
KATY senta na beira do lago, com suas pernas tocando a água. THEO chega correndo e senta ao seu lado.
THEO - Por que está me evitando?
KATY - Não estou te evitando.
THEO - Está sim! Ou sei lá. Uma hora você está bem, outra você já está toda virada. Não te entendo mais, Katy!
KATY - Não pedi para me entender. Quer saber? Me deixa em paz!
Katy levanta-se e SAI andando pela beira do lago. Theo observa-a até sumir na leve nebulosidade visível mais a frente.
CENA 06. PENSÃO. QUARTO DE CHARLES. INT./NOITE
Legenda: 10:57 P.M.
CHARLES vai até a pequena SACADA e fica a sentir o vento em seu rosto e a observar o lago. Ele enxerga a mansão de Camilla, que parece pequena de longe. Em seguida, alguém o empurra contra o GRADIL.
CHARLES - Sabia que você viria. Você sabia que eu tinha lhe renhecido.
Charles vira-se e fica de frente para a pessoa, que veste LUVAS E ROUPAS totalmente PRETAS. Charles é empurrado novamente contra o gradil. A pessoa põe a mão no rosto de Charles, que luta levemente contra, e vai empurrando-o, até o senhor cair da sacada, diretamente no lago. CAM foca no senhor ao lago. A falta de movimento e o afundar do corpo, insinuam a morte de Charles.
FADE OUT
CONTINUA...
CONTINUA...
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